quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Por que o mundo é essa Coca-Cola toda?!



Não tem como evitar, cedo ou tarde, seja você capitalista ou socialista, rico ou pobre você irá se deparar com algum outdoor ostentando a caligrafia elegante da Coca-Cola com seus escritos em branco ao fundo de um vermelho poderoso. A história do marketing e da propaganda se confunde com a própria história da Coca-Cola, que devido ao seu pioneirismo hoje é a marca mais lembrada em todo o mundo.
 Produto globalizado, até mesmo quando ninguém se valia desse termo para referir-se ao mercado mundial, a Coca-Cola é um símbolo de múltiplos significados.
 Ela pode representar uma nação, como acontece desde o final da segunda guerra mundial onde a “gentil” Coca-Cola ofertava aos soldados americanos a sua bebida, como também pode representar: status, poder, felicidade ou mesmo o bem-estar. Tal associação não tem caráter óbvio, nem é imediatamente clara, mas foi, pouco a pouco, sendo construída a partir dos elementos exibidos na publicidade e na insistência da cor vermelha integrada às referidas sensações positivas.  
  Talvez este seja o grande trunfo da Coca: o de agregar valores, ela associa a uma bebida sentimentos inerentes do ser humano, tornando-a uma espécie de companhia ideal para qualquer momento de nossas vidas.
 Porém, quando se trata de marketing e propaganda as coisas são menos obvias do que se pode imaginar. Para vender toda essa felicidade a Coca-Cola já patrocinou guerras, o nazismo e contribui de forma significativa para a descaracterização de culturas inteiras.  
  Chega a ser irônico o fato de a bebida que um dia nasceu com a proposta de ser um tônico revigorante, se tornar um dos principais agravantes da epidemia de obesidade que se vê pelo mundo.
  As pessoas sabem que a Coca-Cola engorda, descalssifica os ossos, provoca celulite e ainda sim a tomam... Seria este um vício, uma questão de hábito ou o resultado de décadas de uma lavagem cerebral da qual não fomos consultados?
  Será que as pessoas realmente querem saber? Será que elas ao menos se importam? Talvez elas nem percebam que estejam sendo marionetes ou pior: talvez elas não queiram saber.
 Afinal pra que pensar nos problemas do mundo, se você pode simplesmente viver o lado Coca-Cola da vida? O fato é que querendo ou não, o mercado atende uma demanda, e quem demanda? Não adianta criticarmos uma única mega-companhia pelo fruto de sua alienação, cabe a nós refletirmos também o senso crítico de quem consome seus produtos.


Luan Emilio Faustino   31/07/10

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Frases Soltas

"Sou orgulhoso demais para assumir que sinto falta de um amor em minha vida e carente o suficiente para aceitá-lo caso ele apareça para me desmentir". Luan Emilio

Verdades que Menti




Foram tantas verdades escritas
Tantas verdades mentidas
Que o que me cabe no decorrer dessas linhas
É confessar tudo aquilo que não escrevi.
E não se trata de omissão
A mentira existe quando a verdade se cala
Ela não precisa ter voz própria
Ela é o silencio, o vácuo, o nada pertinente
Do que se leu até aqui, nada se perde...
A ficção que existe em meus versos
Contrapõem a realidade que fere meus sonhos
Sou poeta, fingidor, Fernando sabe...
E o que eu sei de minhas mentiras bem contadas?
O que sei de minhas verdades nunca ditas?
Perguntas...
A curiosidade é uma dádiva quando se é criança
E um carma quando se é adulto
Porque o maior problema de se procurar a verdade
É que às vezes você a encontra.
As mentiras não!
Elas se escondem e perdem-se no tempo
Estão sempre se inovando, assim como o mundo.
Já a verdade é careta, conservadora
O tipo de roupa clássica
Da qual as pessoas olham, admiram e pensam
“Fica bem nos outros, mas não combina comigo”
Qual é a verdade que me veste?
Qual é a mentira que encubro?!
Estou pronto para exposição da nudeza d’alma
Pronto para me enxergar tal como sou.
A verdade pode até não ser bela
Mas mentiras bonitas nunca me satisfizeram...

Luan Emilio Faustino 19/05/2010 – 00:49

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Amores Líquidos




Felizes eram os poetas que falavam de um amor maior que as próprias palavras, que viveram na época em que as sacadas das moças não tinham sensores e alarmes anti-furtos previamente instalados.
A nós poetas da geração “ficar” coube a conquista de cada dia, as declarações feitas nos depoimentos do Orkut que você pode copiar e mandar pra mais de uma pessoa se for esperto o suficiente pra colocar ao fim de tudo “não aceita”, as cantadas rápidas do twitter e os nick’s do MSN que deixam tudo subentendido.
O que seria de nós sem o Formspring’s da vida pra tirar todas aquelas duvidas indiscretas que não temos coragem de perguntar olhando nos olhos da pessoa que tanto gostamos!?
Já não se fazem conversas como antigamente, não depois que inventaram os emotions que expressam com exatidão tudo aquilo que você sente pela pessoa que esta do outro lado do monitor.
Eu vejo diários virarem blog’s, pessoas virarem números, posso me apaixonar por uma foto “photoshopada” e me identificar com tudo àquilo que as pessoas escrevem sem necessariamente entender ou concordar. Em pensar que dizem que os antigos eram platônicos...
É bonito ver que ainda que mudado e informatizado, o amor resiste ao tempo e está ao alcance de um clique. O amor se molda a realidade em que é apresentado, ele pode ser acessado por muitos, pode sofrer marcações eternas, ser promovido ou excluído.
Ainda sim o amor existe e você pode tornar a sua Colheita mais Feliz mandando flores pra quem gosta, abraçando alguém via Buddypoke, ou mesmo deixando um scrap parabenizando alguém que você “lembrou” que faz aniversário aquele dia.
Existem tantas formas diferentes de se mostrar o amor... Tantos e-mail’s a serem abertos, vídeos para serem vistos, sites a serem descobertos, ao fim de tudo faça o exercício fundamental de separar o real do virtual e se o resultado for um sorriso sincero, acredite: o vírus do amor corrompeu os antivírus instalados em sua cabeça, você esta pronto para se apaixonar.

Luan Emilio Faustino 25/01/10 - 19:55hs

O Trem que Corta


E já não existe voz que fale pelo meu coração...
Aqui onde tudo se sente e nada se cala
Padece a lembrança de um sorriso sincero.
Dos olhos recém estreados que um dia disseram “eu te amo”
Antes mesmo da própria boca,
Notei com relutância a ausência do brilho raro que me tornava vivo em ti.
Pudera eu ter a coragem de sacrificar aquilo que sou
Para tornar-me aquilo que posso ser
Ainda que uma parte de mim não mais me pertença...
Acredito que a parte que me resta será o bastante para seguir em frente.
E já não falo de perspectivas, não falo de amor...
Hoje são feridas abertas que falam por mim.
Elas mentem, machucam e multiplicam-se.
E eu que tantas vezes defendi a verdade a todo custo
Menti para tornar o meu mundo um lugar mais propicio aos sonhos.
Sem saber que voltar a sonhar seria hoje o meu desejo mais íntimo.
Sobre o tempo pouco sei,
Além do fato que ele age de formas diferentes em cada pessoa
E se me sinto esquecido por ele,
É porque vejo todos mudarem, menos eu.
Quem ousaria olhar pra dentro,
Quando lá fora a vida nos da motivos para temer a nós mesmos?
Não mais me importo de ter trilhado o caminho mais difícil
Desde que ele me conduza a um lugar que eu possa chamar de meu.
E se no fim o trem que corta a minha vida
Esvaziar-se durante o percurso
Eu seguirei os trilhos rumo a mim mesmo.
Em uma jornada solitária,
Sem lugares para terceiros,
Sem acertos ou erros,
Apenas eu e os meus sentimentos,
Livres da felicidade.


"E se fosse lhe dado o poder de matar tudo aquilo que um dia fez nascer em mim, eu pediria: salve-me de você mesmo"

Luan Emilio Faustino 05/10/09 – 02:40hs

Foto by Thiago Lopes

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Enlatados



O mundo tem evoluído em uma velocidade que poucos conseguem acompanhar, sabemos cada dia mais do mundo e cada vez menos de nós. São tantas coisas para se inteirar, que perder tempo com autoconhecimento chega a ser uma vaidade que o sistema não costuma perdoar.
Você não precisa pensar no que você é, existe um mundo que faz isso por você, crescemos em meio aos rótulos e códigos de barras invisíveis que nos qualificam de forma silenciosa e nos condenam as prateleiras de um supermercado que esta sempre em liquidação.
Estamos nos vendendo como produtos descartáveis, nossas embalagens bem elaboradas visam aguçar os olhos de um consumidor que na maioria das vezes nos compra por puro consumismo, só pelo prazer da compra.
O bom comprador, esta a procura da verdadeira oferta, não é aquela em que o preço se desvaloriza a tal ponto em que se indaga a qualidade da mercadoria. Ele procura um produto que atenda a suas reais necessidades, gastando se preciso a sua preciosa sola de sapato e resistindo as tentações das prateleiras bem arquitetadas que nos atraem como moscas à luz.

Estamos na fila de um caixa rápido que corre sabe Deus para onde...

Nota-se tanta pressa nas mãos que nos tocam, que a impressão que se têm é que viemos de fábrica com um aviso sublinhado em que se lê: “Produto para consumo imediato”.
É tão triste concluir que ignoramos o prazo de validade das nossas relações e vivemos apenas o momento tendo como certo a existência dos produtos similares que se multiplicam.
Pudera cada um de nós desenvolver a capacidade de tornar-se um produto limitado, não pelo o mundo e seus padrões, mas pelos sonhos que são inerentes aos que não se limitam a realidade. Sejamos exclusivos, renováveis e porque não produtos biodegradáveis?
Existe um produto destinado a cada tipo de consumidor e embora não saibamos ao certo de onde viemos e para onde vamos nessa esteira da vida, temos como certo a condição de produtos perecíveis ao tempo.
Você pode se sentir o lançamento da semana hoje, a marca de confiança amanhã ou ter a constante sensação de estar fora da prateleira que deveria estar. Você não esta sozinho, mesmo quando quer estar.
Já não cabe aqui falar do clichê dos que negligenciam o conteúdo, cada um sabe ou deveria saber o que deseja carregar em sua fórmula, seja ela secreta como a da Coca ou de conhecimento geral, cedo ou tarde alguém terá o interesse de ler as suas informações.
Nessas horas se faz importante lembrar que propaganda enganosa é crime, aonde a maior vitima é o praticante do delito que por medo de vender o que se é, acaba comprando uma ilusão, da qual ninguém quer comprar, trocar e muito menos consumir.

Luan Emilio Faustino 24/05/2010 - 11:59h

Intacto Coração



A melhor parte da minha confusão
É encontrar no incerto o impulso
Dos que se arriscam em se perder
Para poder se encontrar.
Existe medo em cada palavra proferida
E um medo ainda maior no teu silêncio
Você que me fez rir e chorar
Esteve longe há tanto tempo...
E agora que se apresenta diante a mim
Com suas palavras de amor utópico
Temo não por mim, mas por ti
Pela beleza de um coração intacto
Que não sabe o que é sofrer
E faz do otimismo a sua bandeira
Sem saber da sombra que ela projeta
Não sou perfeito, não cobro a perfeição
Gosto das particularidades de seus erros
Das tentativas frustradas,
Da vontade inquestionável de melhorar
Se nossa história não termina aqui
Eu vou levando...
O coração partido pode se enganar
Encontrando verdades que nunca existiram
E o que existe de certo entre nós
Além da distância dos pensamentos
É o amor, que me confunde os sentidos
Pudera eu dizer “te amo”
Acreditando no “pra sempre”.
Pudera o “pra sempre” se acabar
Na eternidade de um instante.

Luan Emilio Faustino 01:47h - 5 de maio de 2009

domingo, 26 de setembro de 2010

Tarde Amarelada



Procuro a mim mesmo nos lugares desconhecidos
Nos becos e nas ruas sem saída.
Parece arriscado, eu sei...
Mas temo ainda mais os caminhos já trilhados
Ainda que os buracos não sejam avistados,
Ainda que as placas denotem um tom de contramão,
Eu sigo rumo ao novo...
Com a certeza de que bem ou mal,
Eu encontre um lugar que eu possa chamar de Meu.
Então eu fujo... Finjo...
E por vezes minto como um principiante,
Como em um jogo de xadrez solitário
Onde sempre perco para mim mesmo.
Por de trás de cada tentativa frustrada
Existe uma força que me sustenta,
Dou a ela o nome de: O Amanhã.
É a ele que dedicarei meus próximos versos
Pois é nele, e só nele que residem meus sonhos.
Não se trata de prorrogar a felicidade,
Trata-se de não viver mentiras no hoje.
Pois nada me soa mais degradante
Do que ceder a carência dos mal amados.
Serei forte o bastante para a chegada de algo maior,
Algo que me faça crer novamente
Que a vida pode sim ser tão simples
Quanto uma singela tarde amarelada.

Luan Emilio Faustino 20/04/09

Vidraça

 

Pudera eu ser espelho e mostrar o que vejo quando ninguém mais quer ver, ser a verdade que incomoda, o mal necessário.
Aquele a quem é conferida a proteção desmedida advinda do mito folclórico dos sete anos... Já vi muitos espelhos se partirem por descuido, e outros tantos deixarem de refletir o que se agradava ver.
O tempo faz com que as pessoas se esqueçam do que eles são capazes de nos mostrar... Mas o pior mesmo é ajudar a recolher os pedaços dos espelhos que você não teve a oportunidade de ver inteiro. Saber que aqueles pedaços que te completam um dia fizeram parte de um todo que não mais existe, faz questionar se os pedaços transparentes de minha vidraça estilhaçada seriam o suficiente para preencher algo de material tão distinto.
Pudera eu refletir como um espelho, pois quando se recebe o bem mais precioso de uma pessoa, tudo o que se pode querer é ter em si o poder da recíproca.
Ainda sim, se espelho eu fosse ninguém me veria da forma que sou, veriam em mim a extensão de seus sonhos, o retrato de um momento... E o que é meu por direito eterno passaria despercebido aos olhos egoístas que se acostumaram em se satisfazer com a sua própria imagem.
Sou o que separa indistintamente os olhos do toque, aquele que quase não se vê, o que existe além de mim só será revelado aos que souberem me enxergar, não temo mais os olhares distraídos, temo as miragens que se formam por onde passo. Não são reais, são pedaços e nada mais.

Inspirado no provérbio Chinês: “Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça”

Luan Emilio Faustino 14/12/09 - 15:35

Luto Solitário


A tempestade se formou em um dia azul...
De repente vi em teus olhos o meu medo refletido
Quando as mãos que um dia transmitiram a força de um sonho
Passaram a ser as mesmas que afagavam um coração partido.
Na sombra dos meus pensamentos inconfessáveis
Repousei o pouco de mim que me restava.
Não disse nada...
Temi que a palavra rompesse com o silêncio do momento
Era um luto solitário,
Sem corpo a ser velado,
Apenas um sentimento sem vestígios,
Sem cartas de despedidas,
Partiu...
E é tão doce a lembrança do que éramos,
Que fica difícil aceitar a visão do que hoje somos.
Sinto falta da cegueira dos que amam
Das cores que preenchiam os meus sonhos
De sonhar…
Às vezes me questiono qual o real sentido do mundo
E se haveria nele um lugar onde ser eu mesmo
Não fosse algo ultrajante ou depravado.
Eu busco respostas, busco a mim mesmo.
Mas no fundo o que eu não consigo mais encontrar
São as respostas que se reuniam todas em um único sentimento.
Estou perdido…
E enquanto não me encontrar novamente
Estarei fazendo você perder o seu tempo
Me desculpe por não mais sentir
Mas acredite: foi real enquanto durou.
Fui feliz quando sorri,
E acreditei no eterno quando disse no “para sempre”.
Agora vá e encontre tudo aquilo que não pude te proporcionar.
Assim, ao menos um de nos estará livre para ser feliz.
Então seja!

Luan Emilio Faustino 27/06/2010 2:20h

sábado, 25 de setembro de 2010

Ser ou não ser, eis o padrão.




É bem verdade que somos criaturas únicas por excelência, cada pessoa possui qualidades inerentes de seus genes, culturas e experiências de vida. Quando os primeiros homens se uniram e se organizaram a fim de se protegerem e perpetuarem a espécie mal sabiam que estavam criando o que posteriormente viria a ser conhecido como “origem da sociedade”.
A mesma sociedade que tem como definição “o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade.”, cresceu de tal forma, que ficou impossível em meio a tanta diversidade um propósito que agrade a todos de formas iguais.
Como se pode notar, o que um dia nasceu para nos proteger, com suas regras ditadas pelos costumes e o tempo, hoje existe para excluir, para ditar padrões, no sentido mais próprio da palavra “ditadura”, cuja qual se da não por intermédio de um golpe de estado, mas de maneira silenciosa, quase imperceptível.
Existe um inimigo invisível à liberdade dos homens que se disfarça em pele de cordeiro e atende por vários nomes: seja pelos valores da sociedade, moral, ética, religião... Eles reprimem o que existe de mais próprio do ser humano, e tentam padronizar pessoas como se fossem produtos industriais.
Vivemos uma inversão de valores, pois perpetuar a espécie não é mais uma preocupação, afinal é de conhecimento geral que todos os dias fetos são abortados na China como maneira de contenção da superpopulação. O atual sistema capitalista já não preza mais o bem comum, pelo contrário, ele estimula de maneira desumana o individualismo e o acumulo de bens.

A igreja sempre condenou aqueles que não acreditavam no que a mesma pregava, mas afinal qual é o crime maior: punir alguém pelo o que não acredita ou ser punido pelo o que acreditam os outros?
Correto estava Marx quando afirmou que a história é feita do conflito de idéias, ora... Se não fosse Galileu Galilei confrontar a igreja estaríamos todos nós fadados ao egocentrismo de achar que o sol gira em torno da Terra e não o oposto. Uma coisa é certa, os padrões mudam, a sociedade muda, o modo de ver a própria sociedade muda, e não importa quanto tempo passe e as coisas mudem, sempre haverá na história uma parcela da sociedade que não será privilegiada, há elas cabem o questionamento maior: ser ou não ser a mudança que você quer ver no mundo?

Luan Emilio Faustino 19/02/09 14:59hs

As Mãos que Falam


Quem teve a brilhante idéia de eternizar o efêmero?
Estaria ele ou ela ciente de seu feito em pleno ato da escrita,
Ou morrera antes mesmo que reproduzissem suas palavras?
Quantos lápis se acabaram na tentativa heróica
De falar pelas cabeças que rolaram,
De tocar os corações que se fecharam
E de mostrar na simplicidade de um verso
De quantas formas diferentes o ser humano pode ser tocado.
Quantos namoros frustrados deram origem a escritores românticos em potencial?
E chega a ser perturbador pensar:
Quantas palavras seriam necessárias para definir a dimensão de um sonho?
Quando precisamos de apenas uma única para resumir o fim do mesmo.
Existe um poema já escrito para cada sentimento,
Se o que sentimos parece ser ao mesmo tempo único porem universal?
Não foram poucas às vezes que me vi escrito por terceiros
Em poemas do século passado pelas mãos que eu nunca toquei.
Como pode um estranho me descrever
Sem nem ao menos se dignar a viver na mesma geração que eu!?
E como pode uma mesma rima ter significado diferente para cada pessoa?
Mais que sentir é preciso compreender estes que são anjos e demônios
Estes que nos envolvem em seus enredos,
Que recriam histórias,
Que nos fazem personagens,
E detém o precioso poder de se reescreverem,
De que adiantaria a existência das palavras,
Se não houvesse no mundo aqueles que a sabem usar?


Luan Emilio Faustino 25 de Julho de 2009 13:25hs

Modismo



Assim eles marcham,
Seguindo o da frente,
São teleguiados,
No meio da gente.
Assim eles seguem,
E aos poucos se cegam,
Não vendo um palmo,
De tudo que os cercam.
Assim, de repente,
A vida é refeita,
E as roupas de ontem,
Não são mais aceitas.
Em passos ditados,
Seguem alienados,
Fazendo da dor,
Seu próprio legado.
Eles são assim,
Mas não são o que são,
Eles não têm culpa,
Têm um coração.
Querem ser alguém,
Querem ser aceitos.
Não os julguem errado,
Olhem para si mesmos.
Luan Emilio Faustino  - 07/09/08

Das cartas que nunca mandei – Parte III


Destinatário: F.A.F

Receio que escrevendo, as palavras percam um pouco da emoção, percam um pouco do sentimento que se perdeu em meio ao tempo. Receio que lendo esta carta, algo de essencial se perca e as palavras se tornem apenas um conglomerado de letras meramente organizadas.
Não espero respostas, escrevo com a intenção de ser relido varias vezes, para que no exato momento em que seus olhos tocarem minhas palavras eu possa vivenciar mediante a uma conexão entre a obra e seu autor, a utopia de sentir seus olhos pesando mais uma vez sobre mim.
Eu estou com aquela sensação estranha que precede os atos dos quais não temos controle sobre a situação. Você sabe exatamente o que quer, mas não consegue calcular as possíveis conseqüências. Mas eu não temo as suas reações, temo justamente a ausência delas.
Simplesmente não posso aceitar a indiferença de quem faz a diferença em minha vida, parece um trocadilho bobo, eu sei, mas foi preciso muita coragem para trazer ele a tona.
Ontem mesmo estive relendo as cartas que você me mandou, não que eu não as tenha lido hoje, mas é que ontem elas me doeram de uma forma diferente. Um tipo de dor estranha que se mistura com a felicidade e a lucidez.
Porque quando reparei em sua letrinha infantil e as carinhas que costumavam decorar suas cartas eu reafirmei para o meu Eu descrente que um dia houve amor onde hoje há... Desculpa... Eu não sei o que há ai hoje...
Eu poderia apagar minhas palavras e recomeçar de forma mais objetiva, mas eu quero compartilhar a minha linha de raciocínio, mesmo ela não sendo das mais lineares.
E se você por ventura se perder em meio à carta, então ela terá cumprido o seu papel. Pois tenho a ingênua esperança de que é preciso se perder para poder se encontrar, ainda que nesse caso se trate de um reencontro.
Penso no que fomos e no que nos tornamos, meus pensamentos são assim desde que te conheci: sempre no plural. Porém por incapacidade de adaptação a solidão eu mantive a mesma forma de pensar.
O pior não é escrever as cartas que não serão entregues, mas esconder os sentimentos que nunca serão correspondidos. É por isso que eu as guardo comigo, uma a uma, em uma espera silenciosa onde o tempo é um mero obstáculo que separa o que o acaso um dia uniu.
Talvez um dia minhas cartas sejam lidas, talvez elas se percam no tempo, por hora contento-me em escrevê-las, foi à forma que encontrei de acalmar a alma e te fazer presente em cada dia da minha vida. E se resolveres fazer aquela pergunta que costumávamos fazer antes de nos despedir, eu lhe respondo sem pensar duas vezes: sim, eu ainda vou te amar amanhã de manhã.

Luan Emilio Faustino 25/09/2010 – 02:13h

Calem-se


Falam do bem e do mal
Da luz e das sombras,
Falam de formas distintas
Do mar e das ondas,
Falam de tudo e de todos
E falam do nada,
Falam dos mortos e dos vivos
Das almas penadas.
Falam quando não dizem
Quando se calam,
Falam de dias perfeitos
Que sempre se acabam,
Falam de sonhos perdidos
Que não mais se acham,
Falam do que não lhes cabem,
Da vida privada.
Falam sem papas na língua
Sem medo ou parada,
Falam porque já não ouvem
Suas próprias palavras.

“Falam tanto por tão pouco, que o muito se perdeu na amplitude do silêncio corrompido.”

Luan Emilio Faustino – 01/10/09 – 11:59hs

Perfeita Solidão

 
Eis um grande paradoxo: quanto mais pessoas existem no mundo, mais as pessoas se sentem sozinhas. Existe uma epidemia chamada solidão, é uma espécie de vírus contagioso que nós seres humanos espalhamos toda vez que praticamos o nosso individualismo.
Somos vitimas de uma doutrina na qual a cartilha nos ensina a pensar primeiro em nós e depois nos outros.Parece que se trata de um mecanismo de auto defesa, desses que a natureza sabiamente colocaria em uma de suas criaturas para manter a sua sobrevivência, mas não é... É coisa do homem mesmo e que fique bem claro, para que a maior vítima não apareça convenientemente como a culpada dessa história.
O homem tem a péssima mania de negar a sua culpa e atribuir a aos inocentes tudo aquilo que a sua covardia os impedem de assumir. Faz parte da imperfeição humana vender uma imagem de perfeição.
Ele acredita tão veementemente no conceito de perfeição que vive a procurar nos outros tudo aquilo que nem ele mesmo pode oferecer. E por procurar algo que não existe, ele nada encontra além das ilusões que ele mesmo inventa.
Sim... Somos todos grandes inventores e nem mesmo os mais avançados recursos tecnológicos do mundo contemporâneo foram capazes de suprimir essa carência que poucos tem a coragem de assumir.
As ruas estão cheias de pessoas muito bem ocupadas com seus fones de ouvidos, celulares multifuncionais e você procura olhar a sua volta com olhos conformados, mas não consegue, pois sente que esta faltando algo.
Talvez seja essa a pior das solidões: aquela em que se vive com um monte de pessoas a nossa volta. Porque se ao menos vivêssemos em uma completa solidão, poderíamos desenvolver a esperança de um dia encontrar alguém que pudesse preencher esse vazio. No entanto, são tantas pessoas, tantas distrações que fica difícil acreditar que alguém possa nos notar.
Conviver bem com os nossos defeitos em um mundo em que se ostenta a perfeição é um exercício diário que requer prática. Não se trata de conformismo ou de querer agradar os outros; trata-se de se amar da maneira em que se é. Eu sei que parece redundante em um mundo individualista pregar o amor próprio, mas as pessoas precisam ter amor em si mesmas para poderem ter o que oferecer.
E quem sabe asssim, aprendendo a amar as suas próprias imperfeições elas possam ser um pouco mais tolerantes com as dos outros. No fundo as pessoas só querem ser aceitas como elas são e por medo da rejeição acabam aceitando qualquer coisa, até mesmo a solidão.

Luan Emilio Faustino 20/07/10 - 19:49h

Ao meu amigo de quatro patas


Homenagens póstumas sempre me causaram um certo mal estar, pelo descompasso intrínseco do ato que deveria ser feito em vida e não em morte. O que me consola é a lembrança da frase que diz “A grandeza das honras não consiste em recebê-las, mas em merecê-las”.
E será por intermédio de lembranças que a minha homenagem será feita, não só para reconhecer a importância que aquela bola de pelo teve em minha vida, mas também para extravasar com a ajuda das palavras os sentimentos que se misturam e estacionam aqui, sem a menor previsão de saída.
Eu tinha 9 anos, era dia das crianças e minha madrinha me deu aquele que veio a ser o meu melhor presente: O Bobby. Sim... Eu ainda não tinha desenvolvido o meu senso criativo e foi esse o nome que lhe fora conferido.
Como raramente se dá sobrenomes a animais, o desdobramento da letra “B” e a inclusão do “Y” foram a tentativa mais fácil de tentar diferenciá-lo dos demais cachorros que compartilhavam do mesmo nome. Inclusive este já fora motivo de briga, pois no alto dos meus 10 anos quando levei meu fiel amigo para a vacinação, ao notar que escreveram na caderneta de vacinação “Bob” no espaço que correspondia ao nome do cachorro, eu intervi denunciando o erro que ao meu ver soava como uma violação a identidade do meu tão estimado cãozinho.
Crescemos juntos, ele mais rápido do que eu graças aquele maldito cálculo de vida dos cães onde você pega a idade real do animal e multiplica por 7 para ter uma noção de quantos anos ele teria se fosse gente. Pelos meus cálculos ele viveu 84 anos, muito mais que a expectativa de vida do brasileiro, o que de alguma forma estranha me consolou.
Graças a ele desenvolvi o que hoje eu posso chamar de boa oratória, quem hoje me vê declamar poemas em praça publica com uma certa desenvoltura, não imagina que até a minha oitava série eu tinha dificuldades para ler em voz alta. Ciente da minha deficiência e contando com a atenção sempre prestativa de meu cachorro, iniciei o experimento de ler em voz alta para o Bobby um livro que 3 anos depois viria estourar nos cinemas: “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.
Era incrível como ele parecia perceber sua utilidade quando eu começava a ler para o mesmo. E o que começara como uma experiência virou uma espécie de ritual, sim... O Bobby leu junto comigo os sete livros da saga Potter, santa paciência.
Era ele que começava a latir como que se quisesse me defender quando a minha mãe saia correndo atrás de mim com sua havaiana, ele que acabava com todo e qualquer vestígios de sobras de comida domiciliar, evitando assim maiores discusões e discursos prolongados sobre a fome na África, ele que esteve presente nos meus momentos mais difíceis e consolava-me pelo simples fato de estar lá.
Não cabem em um texto as lembranças de uma vida, cabe aqui a minha gratidão, a minha eterna saudade e a certeza inabalável que ao menos uma vez na vida eu tive um amigo de verdade, o meu amigo de quatro patas.

Luan Emilio Faustino 15/02/10 22:45hs

Homenagem ao Bobby: 13/06/98 à 15/02/10

A Flor



A ti flor dos campos longínquos
Fonte de inspirações que não secam
Atribuo os meus melhores versos
Em uma oração ao pé do ouvido
Ouças o meu clamor de gratidão
E ao final não digas nada...
Apenas olhe em meus olhos
Para que eu leia de forma plena
Os sentimentos que nunca morreram.

Golpe de sorte, dor que não cessa.
Reside em ti o terreno fértil
Capaz de fazer crescer os sonhos
Que eu em minhas desilusões somadas.
Descrente de tudo e de todos
Passei a sonegar os sentimentos
Que insistiam em viver somente em ti.

Irreversíveis são os espaços abertos
Nos corações que somente sabem esperar
A lástima do subtendido e das meias palavras
É a ausência que se cria de certezas.

A ti flor despida de espinhos
Eu temo causar o sofrimento
Que tu em sua infinita bondade
Seria incapaz de produzir
E se me mantenho distante é para apreciá-la
De tal forma que não note que és observada
Da forma cruel que te faz sentir esquecida
Longe da idéia de ser especial para alguém.

Oh flor não chores,
O tempo todo, cada gesto, cada sorriso.
Nada passou despercebido,
Pois nem mesmo os meus piores inimigos
Traíram-me tanto quanto os meus sentimentos
Aceito a queda da razão frente à emoção
E despeço-me do que um dia eu fui.

Pois tudo o que eu preciso hoje
É não mais temer te fazer feliz!

Luan Emilio Faustino 7 de setembro 2009 – 22:39hs

Sra. Morte



Das profundezas da escuridão
Agora vou me apresentar
Para sair da solidão
E em sua vida um dia entrar

Sou a senhora morte
E o meu trabalho é matar
Não adianta se esconder
Pois a sua vida eu vou levar

O meu trabalho é um lixo
Mas alguém tem que fazer
A tarefa tão difícil
De escolher quem vai morrer

Estarei no ato falho
Na bebida exagerada
No atraso ao trabalho
Nos degraus de sua escada

Estarei de prontidão
Para quando me chamarem
Mas eu também estarei
Onde não me procurarem

E nas noites mal dormidas
Horas extras eu farei
Pondo em sono mais profundo
Pesadelos que acordei

Tudo pode ser perdido
Nada pode ser refeito
Não há chances para erros
Mas também não há acertos

Tenho agora que partir
E voltar a trabalhar
Nos veremos logo em breve
Pois sua hora irá chegar!

Luan Emilio Faustino 06/06/06

O Menino do Castelo de Cartas



Ele era um menino tímido que só conseguia falar de si mesmo por intermédio de metáforas. Ela era o tipo de garota que deixaria qualquer garoto embaraçado, pelo simples fato de ser apaixonante. Ele a temia, ela o encorajava.

- Eu me vejo como um castelo de cartas enorme, muito mais frágil que imponente do que os castelos deveriam ser... Até um pouco cômico, mas em volta há uma muralha para proteger o castelo de tudo o que o mundo externo tem de destrutivo e mau, uma muralha muito alta por sinal. Contudo o que pode fazer uma muralha contra um furacão?

- A pergunta é: o que há do lado de dentro da muralha esta completo? Por que ao fechar as portas para um furacão, por mais que ele lhe meta medo e lhe tire algumas coisas, você impedirá que entre aquilo que pode estar lhe faltando... - Ela fez uma pausa e continuou cautelosa - às vezes, não que este seja o caso, a gente precisa renunciar aquilo que somos para nos tornarmos aquilo que podemos ser.

- O problema, é que o pacato povo do país Eu não gosta muito de ventos fortes... Então quando algumas nuvens começam a se reunir no horizonte, se instaura o caos, começa o empurra-empurra e ninguém sabe ao certo para onde correr.

- Mas do que eles correm? Do vento lá de fora ou do vento que vem de dentro? E pra onde eles correm se estão presos em uma muralha? Não seria mais sensato abrir a porta para o incerto do que fechar-se para a certeza de uma dor iminente?

Fez-se um silêncio constrangedor, que não fora seguido de uma resposta com palavras.

O que se sabe é que em um castelo distante de cartas enormes, uma muralha desmoronou. E entre mortos e feridos salvaram-se todos.

Luan Emilio Faustino 13/09/2010 - 04:26h

Segredo...



Peço-lhe: guarde este segredo
Esconda-o de todos, menos de ti
Fuja se necessário
Minta se questionado
Mas por favor, guarde este segredo.
Não se deixe iludir
Não ande onde eu não possa te ver
Não me faça as perguntas
Que me fizeram sofrer
Apenas guarde este segredo
Apenas saiba que ele existe
E eu, guardarei você.
Sem medo, sem te-lo.
Meu grande, precioso e verdadeiro:
Segredo.

Luan Emilio Faustino 08/01/2004 -  8:30h

Das Cartas que nunca mandei - Parte II

Destinatário: Natureza

No começo, éramos uma espécie de irmãos siameses, almas gêmeas, ou qualquer coisa que não pudesse ser separada. Amávamo-nos e, mesmo que muitos desacreditassem que você fosse capaz de desenvolver qualquer tipo de sentimento, sabíamos que de alguma forma não sobreviveríamos um sem o outro.
Os anos passaram, eu mudei, havia em mim uma necessidade de me manter distante de tudo aquilo que pudesse remeter qualquer lembrança do nosso passado, de minhas origens.
Eu quis poder acreditar que as minhas atitudes não a afetariam, que seguiríamos em caminhos opostos, sem a menor chance de nos cruzarmos.
Você por sua vez não disse nada e, embora muitos a procurem hoje justamente pelo seu silêncio, eu em minha sede de ser diferente preferi ouvir o som dos barulhos que me entorpecem.
Mesmo tendo feito tudo para ignorá-la, hoje percebo que, invariavelmente, quanto mais cresço menor você fica. As coisas não precisavam ser assim, eu sei.
Nos últimos tempos, porém, pude notar que estavam errados quanto à ausência de seus sentimentos, parece que nada passou despercebido de sua visão; todos os erros, todos os avisos não ouvidos...
Embora eu sofra com toda a sua revolta e presencie todas as suas tormentas, me pesa a culpa ver toda a sua frieza derreter-se em um mar de lagrimas. Sei que não será fácil reverter o mal que te fiz, mas você que a princípio era o meu apoio, minha aliada, agora me faz tremer e perder o controle de tudo aquilo que negligentemente construí sobre você.
Mas quer saber? Não a culpo, sei que o erro foi meu, afinal não deve ser fácil ser usada e abandonada, também sei que pode ser tarde demais para uma reconciliação; mas se ainda quiser, estarei aqui, pronto para provar que embora eu pareça um total estranho para você, ainda somos incondicionalmente da mesma natureza.

Luan Emilio Faustino – 05/07/08 – 20:27h

Das cartas que nunca mandei - Parte I




Destinatário: Deus

Eu pensei por um longo tempo em qual seria o meu argumento para entrar em contato através de uma carta e não por uma oração ou dialogo informal, destes que estamos acostumados a fazer minutos antes de dormir e do qual eu, particularmente nunca obtive respostas.
O que me consola é a sua onisciência, essa coisa mágica e invejável de tudo saber me livra do fardo de me explicar, afinal porque eu haveria de explicar aquilo que você já sabe? Aquilo que nem mesmo eu sei...
Eu não sei e gostaria realmente de saber a exata forma de me referir a você, não quero parecer mal educado... É você? Senhor? Brother? Tudo bem, já me acostumei com a ausência de respostas...
Mas supondo que essa carta chegue de fato a você, me questiono: o que eu diria pra Deus se tivesse a oportunidade?
Sabe... Eu não quero fazer você perder seu tempo e muito menos perder o meu jogando palavra ao vento. É por isso que eu as registro e não apenas as falo para depois esquecer.
Falando sobre esquecer... Como tem andado a sua memória? Você não se ofende com a pergunta, né? É que eu me questiono com uma certa freqüência se você ainda se lembra de nós... É sério, não estou querendo ser irônico ou sarcásticos, mas basta ligar a tv ou ler os jornais para se ter a fé questionada.
Por favor, não me puna por ser curioso, afinal se você nos deu a curiosidade, porque haveria de censurar o seu uso? Eu li sobre o que você fez com a Eva quando ela resolveu provar o fruto da sabedoria e quando transformou pessoas em estatuas de sal pelo simples fato de olharem pra trás.
Eu particularmente acredito que você não faria isso... Afinal Deus é amor, é bondade, é compaixão (e justiça). Sei lá, isso não combina com o seu perfil...
Mas eu entendo o seu lado, não deve ser fácil ser o maior best seller do mundo, as pessoas vão contando a sua história e passando pra frente cada uma da sua forma e quando menos se espera a essência se perde em algum lugar das mãos dos homens que poderiam ganhar algo com isso.
As pessoas falam tanto de ti pra mim, mas tanto... Ouço o seu nome com uma freqüência quase maior que o meu próprio nome, elas adoram lembrar de você nas adversidades e se esquecem com uma facilidade nos momentos em que o esperado seria a gratidão.
Eu sei que falta um pouco de foco na minha carta, mas o mundo é tão grande que fica difícil não se perder em meio às possibilidades... Se eu fosse um pouco mais interesseiro e me esquecesse por um momento que você tudo sabe, eu massagearia o seu ego sem pensar duas vezes e o elogiaria pelo o seu grande feito. Afinal a criação do mundo deve ter requerido muita criatividade. Às vezes eu pergunto (sempre silenciosamente) quais eram as suas ocupações antes de criar o mundo e o que se tornaram delas depois que você se deu conta daquilo que fez...
Nós escritores, cineastas, músicos bem que tentamos brincar de Deus e criar mundos, mas nos falta a sua originalidade. Sim... Porque a arte acaba sempre se apoiando nos pilares de sua criação.
Ah... como eu queria poder falar que as coisas por aqui vão muito bem obrigado e lhe mandar juntamente com esta carta um postal da Terra que representasse todo o conformismo do qual eu não compartilho.
Mas tudo bem... Sem drama, eu quero te deixar orgulhoso de sua criação, falar que existe progresso, que as pessoas aqui se amam como iguais e que o sacrifício do teu filho (o mais famoso eu me refiro) não foi em vão. Mas quem eu estou querendo enganar? Às vezes eu me esqueço que você tudo sabe...
Tudo bem, eu estou sendo redundante, reconheço... Talvez eu deva parar por aqui e me abster dessas questões existências, seguir como mais um alienado e acreditar no que as pessoas dizem por ai. Mas eu sei que no fundo você sabe o filho que tem, e sabe mais do que ninguém que ele nunca será bem sucedido nessa tentativa louca de se tornar algo que se possa chamar de normal. Ainda sim, agradeço tua atenção e aguardo ansiosamente a sua resposta.

Luan Emilio Faustino 19/09/2010 – 22:05h