domingo, 8 de abril de 2012

Como num parque de diversão


Ele estava ali montado, já fazia uma ou duas semanas, era um daqueles parques de diversão itinerante com preços populares, desses que viajam pelo país inteiro em condições precárias. Eu iria passar reto, como nos dias anteriores, mas aquelas luzes, mais aquela atmosfera me atraiu feito um convite para a reflexão. Havia uma montanha Russa sem looping, um trem fantasma que muito provavelmente não dava medo e é claro: pessoas, várias delas... Era como se eu fosse um intruso em uma festa, mas as pessoas estavam ocupadas demais para me notarem, o que de certa forma era bom porque eu gostava de observá-las em sua naturalidade. Ouvi gritos vindos de várias partes, o vento criado pelo movimento do Kamikaze despenteava o meu cabelo e o cheiro daquele molho de cachorro quente, conseguia me fazer sentir fome, mesmo tendo acabado de comer. Não havia muito a ser explorado, era um parque pequeno, para uma cidade pequena, eu sentia falta de algo é claro,  e eu não estou me referindo a roda gigante inexistente, que a principio me causou uma certa indignação, afinal, como poderia haver um parque de diversão sem roda gigante? E o romantismo? Ao menos haviam maças do amor para me consolar, e aquele estande de tiro ao alvo que a gente nunca acerta nada, mas vai porque quer tentar impressionar a pessoa que esta do nosso lado. E foi então que eu percebi que estava só, alias, eram apenas eu e os meus pensamentos, em meio a toda aquela felicidade fabricada, tentando disfarçar uma solidão irritantemente genuína. Naquele momento eu pensei em dar meia volta e sair, mas não o fiz, eu permaneci ali nostálgico, lembrando de tudo aquilo que eu queria esquecer. No carrossel uma criança subia e descia solitária no brinquedo, assustada demais para retribuir os acenos do pai que a observa do lado de fora. Havia um casal discordando se iriam usar seu ultimo ingresso no Crazy Dance ou no Samba, “- Mas mor a gente já foi  no Crazy Dance... -  Eu sei lindo... mas aquele samba acaba com as minhas costas”.  Andei mais um pouco pelo parque a espera de encontrar algo ou alguém que pudesse dar sentido a toda aquela minha exposição ao ridículo, mas para a minha total falta de sorte, nada encontrei. Mais tarde, já em casa refletindo sobre todas as coisas que não encontrei, cheguei a conclusão de que a vida é como um parque de diversões: você chega cheio das vontades, quer andar em tudo, quer fazer tudo ao mesmo tempo, mas depois conforme o tempo vai passando e a nossa percepção vai mudando a gente se da conta que alguns brinquedos podem além de dar medo, machucar. No entanto seria tolice se a gente deixasse de andar nos demais brinquedos só porque um deles apresentou problemas. E não adianta você estar em um parque de diversões se você não estiver disposto a se divertir, a vida em si é um risco, e não vivê-la é um risco ainda maior. Estamos todos neste grande parque de diversão, sem travas de segurança, sem idade mínima, sem acompanhantes, vez ou outra alguém irá dividir a poltrona com você e dar uma ou duas voltas em um brinquedo e partirão da mesma forma como chegaram: como verdadeiros estranhos. Mas a vida é assim mesmo, cheia de altos e baixos, tromba-trombas e trens fantasmas, ninguém esta livre dos sustos, dos risos e de tudo mais que esta por vir. Talvez essas marcas todas que ficaram dos brinquedos anteriores saiam nos próximos brinquedos, quem pode me convencer do contrário? E o que é um pingo pra quem já está molhado? Melhor não deixar pra depois essas minhas tentativas, afinal, nunca se sabe ao certo a hora que o parque irá fechar.

Luan Emilio Faustino  08/04/2012 - 17h59

2 comentários:

  1. "Eu tenho memórias de parques e brinquedos onde nunca fomos juntos, porque nem sequer nos conhecemos pessoalmente. Mas talvez eu sinta isso porque quase tudo que você escreve, se encaixa como uma peça no quebra-cabeça da minha vida. Porque mesmo que inconscientemente, você entende um pouco do mundo onde me perdi"

    Belíssima narrativa Emy. Acho que não existe um gênero que você não se dê bem.

    ResponderExcluir
  2. Texto surpreendente, obrigado, Mas só para completar sua conclusão: "Que existe pelo menos uma roda gigante na sua vida e que, do alto, você não possa ver nada além de quem esta ao seu lado. Se por ventura o passeio acabar, melhor continuar a passear pelo parque"

    Desculpa a intromissão, mas preciso de uma roda gigante para mim

    ResponderExcluir