sábado, 25 de setembro de 2010

Ao meu amigo de quatro patas


Homenagens póstumas sempre me causaram um certo mal estar, pelo descompasso intrínseco do ato que deveria ser feito em vida e não em morte. O que me consola é a lembrança da frase que diz “A grandeza das honras não consiste em recebê-las, mas em merecê-las”.
E será por intermédio de lembranças que a minha homenagem será feita, não só para reconhecer a importância que aquela bola de pelo teve em minha vida, mas também para extravasar com a ajuda das palavras os sentimentos que se misturam e estacionam aqui, sem a menor previsão de saída.
Eu tinha 9 anos, era dia das crianças e minha madrinha me deu aquele que veio a ser o meu melhor presente: O Bobby. Sim... Eu ainda não tinha desenvolvido o meu senso criativo e foi esse o nome que lhe fora conferido.
Como raramente se dá sobrenomes a animais, o desdobramento da letra “B” e a inclusão do “Y” foram a tentativa mais fácil de tentar diferenciá-lo dos demais cachorros que compartilhavam do mesmo nome. Inclusive este já fora motivo de briga, pois no alto dos meus 10 anos quando levei meu fiel amigo para a vacinação, ao notar que escreveram na caderneta de vacinação “Bob” no espaço que correspondia ao nome do cachorro, eu intervi denunciando o erro que ao meu ver soava como uma violação a identidade do meu tão estimado cãozinho.
Crescemos juntos, ele mais rápido do que eu graças aquele maldito cálculo de vida dos cães onde você pega a idade real do animal e multiplica por 7 para ter uma noção de quantos anos ele teria se fosse gente. Pelos meus cálculos ele viveu 84 anos, muito mais que a expectativa de vida do brasileiro, o que de alguma forma estranha me consolou.
Graças a ele desenvolvi o que hoje eu posso chamar de boa oratória, quem hoje me vê declamar poemas em praça publica com uma certa desenvoltura, não imagina que até a minha oitava série eu tinha dificuldades para ler em voz alta. Ciente da minha deficiência e contando com a atenção sempre prestativa de meu cachorro, iniciei o experimento de ler em voz alta para o Bobby um livro que 3 anos depois viria estourar nos cinemas: “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.
Era incrível como ele parecia perceber sua utilidade quando eu começava a ler para o mesmo. E o que começara como uma experiência virou uma espécie de ritual, sim... O Bobby leu junto comigo os sete livros da saga Potter, santa paciência.
Era ele que começava a latir como que se quisesse me defender quando a minha mãe saia correndo atrás de mim com sua havaiana, ele que acabava com todo e qualquer vestígios de sobras de comida domiciliar, evitando assim maiores discusões e discursos prolongados sobre a fome na África, ele que esteve presente nos meus momentos mais difíceis e consolava-me pelo simples fato de estar lá.
Não cabem em um texto as lembranças de uma vida, cabe aqui a minha gratidão, a minha eterna saudade e a certeza inabalável que ao menos uma vez na vida eu tive um amigo de verdade, o meu amigo de quatro patas.

Luan Emilio Faustino 15/02/10 22:45hs

Homenagem ao Bobby: 13/06/98 à 15/02/10

2 comentários:

  1. posso imaginar quanta saudade senti do seu amigo Bobby, tenho um amor incondicional pelos os meus e não me imagino sem eles.muito bom saber que tem pessoas que dão valor a esses amigos que não nos cobram nada e nos dão tudo de bom."/

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  2. Pessoas especiais entram e sai da nossa vida o tempo todo.
    Sejam elas pessoas ou animais, esses que são mais sinceros e apaixonantes do que as próprias pessoas. São poucas pessoas que dão o devido valor pra eles, estou feliz em saber que você é uma dessas poucas pessoas. =D

    Te Adoro Luan Emilio!!

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