domingo, 26 de setembro de 2010

Vidraça

 

Pudera eu ser espelho e mostrar o que vejo quando ninguém mais quer ver, ser a verdade que incomoda, o mal necessário.
Aquele a quem é conferida a proteção desmedida advinda do mito folclórico dos sete anos... Já vi muitos espelhos se partirem por descuido, e outros tantos deixarem de refletir o que se agradava ver.
O tempo faz com que as pessoas se esqueçam do que eles são capazes de nos mostrar... Mas o pior mesmo é ajudar a recolher os pedaços dos espelhos que você não teve a oportunidade de ver inteiro. Saber que aqueles pedaços que te completam um dia fizeram parte de um todo que não mais existe, faz questionar se os pedaços transparentes de minha vidraça estilhaçada seriam o suficiente para preencher algo de material tão distinto.
Pudera eu refletir como um espelho, pois quando se recebe o bem mais precioso de uma pessoa, tudo o que se pode querer é ter em si o poder da recíproca.
Ainda sim, se espelho eu fosse ninguém me veria da forma que sou, veriam em mim a extensão de seus sonhos, o retrato de um momento... E o que é meu por direito eterno passaria despercebido aos olhos egoístas que se acostumaram em se satisfazer com a sua própria imagem.
Sou o que separa indistintamente os olhos do toque, aquele que quase não se vê, o que existe além de mim só será revelado aos que souberem me enxergar, não temo mais os olhares distraídos, temo as miragens que se formam por onde passo. Não são reais, são pedaços e nada mais.

Inspirado no provérbio Chinês: “Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça”

Luan Emilio Faustino 14/12/09 - 15:35

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