sábado, 25 de setembro de 2010

Das Cartas que nunca mandei - Parte II

Destinatário: Natureza

No começo, éramos uma espécie de irmãos siameses, almas gêmeas, ou qualquer coisa que não pudesse ser separada. Amávamo-nos e, mesmo que muitos desacreditassem que você fosse capaz de desenvolver qualquer tipo de sentimento, sabíamos que de alguma forma não sobreviveríamos um sem o outro.
Os anos passaram, eu mudei, havia em mim uma necessidade de me manter distante de tudo aquilo que pudesse remeter qualquer lembrança do nosso passado, de minhas origens.
Eu quis poder acreditar que as minhas atitudes não a afetariam, que seguiríamos em caminhos opostos, sem a menor chance de nos cruzarmos.
Você por sua vez não disse nada e, embora muitos a procurem hoje justamente pelo seu silêncio, eu em minha sede de ser diferente preferi ouvir o som dos barulhos que me entorpecem.
Mesmo tendo feito tudo para ignorá-la, hoje percebo que, invariavelmente, quanto mais cresço menor você fica. As coisas não precisavam ser assim, eu sei.
Nos últimos tempos, porém, pude notar que estavam errados quanto à ausência de seus sentimentos, parece que nada passou despercebido de sua visão; todos os erros, todos os avisos não ouvidos...
Embora eu sofra com toda a sua revolta e presencie todas as suas tormentas, me pesa a culpa ver toda a sua frieza derreter-se em um mar de lagrimas. Sei que não será fácil reverter o mal que te fiz, mas você que a princípio era o meu apoio, minha aliada, agora me faz tremer e perder o controle de tudo aquilo que negligentemente construí sobre você.
Mas quer saber? Não a culpo, sei que o erro foi meu, afinal não deve ser fácil ser usada e abandonada, também sei que pode ser tarde demais para uma reconciliação; mas se ainda quiser, estarei aqui, pronto para provar que embora eu pareça um total estranho para você, ainda somos incondicionalmente da mesma natureza.

Luan Emilio Faustino – 05/07/08 – 20:27h

Um comentário:

  1. "Embora eu sofra com toda a sua revolta e presencie todas as suas tormentas, me pesa a culpa ver toda a sua frieza derreter-se em um mar de lagrimas."

    Nunca pensei em escrever uma carta pra natureza.

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