sábado, 25 de setembro de 2010

Das cartas que nunca mandei - Parte I




Destinatário: Deus

Eu pensei por um longo tempo em qual seria o meu argumento para entrar em contato através de uma carta e não por uma oração ou dialogo informal, destes que estamos acostumados a fazer minutos antes de dormir e do qual eu, particularmente nunca obtive respostas.
O que me consola é a sua onisciência, essa coisa mágica e invejável de tudo saber me livra do fardo de me explicar, afinal porque eu haveria de explicar aquilo que você já sabe? Aquilo que nem mesmo eu sei...
Eu não sei e gostaria realmente de saber a exata forma de me referir a você, não quero parecer mal educado... É você? Senhor? Brother? Tudo bem, já me acostumei com a ausência de respostas...
Mas supondo que essa carta chegue de fato a você, me questiono: o que eu diria pra Deus se tivesse a oportunidade?
Sabe... Eu não quero fazer você perder seu tempo e muito menos perder o meu jogando palavra ao vento. É por isso que eu as registro e não apenas as falo para depois esquecer.
Falando sobre esquecer... Como tem andado a sua memória? Você não se ofende com a pergunta, né? É que eu me questiono com uma certa freqüência se você ainda se lembra de nós... É sério, não estou querendo ser irônico ou sarcásticos, mas basta ligar a tv ou ler os jornais para se ter a fé questionada.
Por favor, não me puna por ser curioso, afinal se você nos deu a curiosidade, porque haveria de censurar o seu uso? Eu li sobre o que você fez com a Eva quando ela resolveu provar o fruto da sabedoria e quando transformou pessoas em estatuas de sal pelo simples fato de olharem pra trás.
Eu particularmente acredito que você não faria isso... Afinal Deus é amor, é bondade, é compaixão (e justiça). Sei lá, isso não combina com o seu perfil...
Mas eu entendo o seu lado, não deve ser fácil ser o maior best seller do mundo, as pessoas vão contando a sua história e passando pra frente cada uma da sua forma e quando menos se espera a essência se perde em algum lugar das mãos dos homens que poderiam ganhar algo com isso.
As pessoas falam tanto de ti pra mim, mas tanto... Ouço o seu nome com uma freqüência quase maior que o meu próprio nome, elas adoram lembrar de você nas adversidades e se esquecem com uma facilidade nos momentos em que o esperado seria a gratidão.
Eu sei que falta um pouco de foco na minha carta, mas o mundo é tão grande que fica difícil não se perder em meio às possibilidades... Se eu fosse um pouco mais interesseiro e me esquecesse por um momento que você tudo sabe, eu massagearia o seu ego sem pensar duas vezes e o elogiaria pelo o seu grande feito. Afinal a criação do mundo deve ter requerido muita criatividade. Às vezes eu pergunto (sempre silenciosamente) quais eram as suas ocupações antes de criar o mundo e o que se tornaram delas depois que você se deu conta daquilo que fez...
Nós escritores, cineastas, músicos bem que tentamos brincar de Deus e criar mundos, mas nos falta a sua originalidade. Sim... Porque a arte acaba sempre se apoiando nos pilares de sua criação.
Ah... como eu queria poder falar que as coisas por aqui vão muito bem obrigado e lhe mandar juntamente com esta carta um postal da Terra que representasse todo o conformismo do qual eu não compartilho.
Mas tudo bem... Sem drama, eu quero te deixar orgulhoso de sua criação, falar que existe progresso, que as pessoas aqui se amam como iguais e que o sacrifício do teu filho (o mais famoso eu me refiro) não foi em vão. Mas quem eu estou querendo enganar? Às vezes eu me esqueço que você tudo sabe...
Tudo bem, eu estou sendo redundante, reconheço... Talvez eu deva parar por aqui e me abster dessas questões existências, seguir como mais um alienado e acreditar no que as pessoas dizem por ai. Mas eu sei que no fundo você sabe o filho que tem, e sabe mais do que ninguém que ele nunca será bem sucedido nessa tentativa louca de se tornar algo que se possa chamar de normal. Ainda sim, agradeço tua atenção e aguardo ansiosamente a sua resposta.

Luan Emilio Faustino 19/09/2010 – 22:05h

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